Introdução a um dos baralhos de tarô mais poderosos da história
Os baralhos Aurora Dourada, Waite e Crowley baseiam-se nos princípios do Livro T, um conjunto de textos sobre Tarô publicado por uma facção da Aurora Dourada. A principal sugestão desses documentos é que a Cabala e a Árvore da Vida são a chave do Tarô. Não há dúvida de que, sem um certo conhecimento básico dos símbolos da Cabala, os baralhos modernos seriam compreensíveis. Há necessidade também de se conhecer o alfabeto hebraico visto que, tal como são utilizadas nos estudos esotéricos, cada letra hebraica é um símbolo e corporifica um bloco de conceitos. Todas as implicações da imagem simbólica da carta O LOUCO (BOBO) também são inerentes à letra hebraica Aleph.
O Livro T, uma complexa representação dos símbolos do Tarô, desenvolve uma fórmula que apareceu pela primeira vez nos Manuscritos Cifrados. Ela contém a ordem dos Trunfos e a relação entre os Trunfos e as letras hebraicas. O mais importante de tudo é a extraordinária atenção conferida ao Tarô. Precisamos compreender que o Livro T, o Tarô, é a chave secreta, não apenas para a Cabala Hermética, mas também para todo o esoterismo ocidental.
O Livro começa assim:
Conduzindo as atividades da Sabedoria Secreta.
“Escreve num Livro o que viste e envia-o aos Sete Moradores de Assiah.”
“E na mão direita Dele, que estava sentado num Trono, vi um livro selado com Sete Selos.” “E ouvi um vigoroso Anjo proclamar em voz alta: ‘Quem é digno de abrir os Livros e de romper seus selos?’”
A passagem com a qual o Livro T é iniciado, certamente representa a atitude da Ordem em relação ao baralho do Tarô. A passagem foi tirada do Apocalipse de São João, capítulo cinco. Depois de o Santo ter ascendido ao Reino dos Céus, mostram-lhe um pergaminho e lhe dizem que ninguém na Terra é digno de abri-lo. O Cordeiro de Deus, porém, tendo dado o seu sangue pela humanidade, é considerado à altura deste ato.
Segure-se que o Tarô e o livro mencionado no Apocalipse e a chave para o Universo. Obviamente, não é o baralho de Tarô, por si, que constitui o chamado Livro T. A sugestão, na verdade, é que a chave para o Cosmos é a nossa percepção dos padrões subjacentes da qual o baralho do Tarô é um símbolo externo.
O baralho Crowley tem uma história longa e complexa. Não apenas Lady Frieda Harris levou cinco anos para pintar as cartas, como o trabalho completo teve de esperar 25 anos para ser publicado.
O projeto de pintar as cartas foi iniciado em 1938 e concluído em 1943, conforme a narrativa feita por Lady Harris numa palestra proferida no Tomorrow Club, a qual continua sendo a única declaração pública a respeito de seu papel no desenvolvimento do baralho:
Eu lhe contarei agora como foi que pintei aquelas cartas e me esforcei ao máximo para descrever claramente os acontecimentos. Fiquei interessada no Tarô depois de ler o livro de Ouspensky, The Model of the Universo [Um Novo Modelo de Universo]. Consegui encontrar pouquíssimas informações ou pesquisas sobre o assunto, até conhecer Aleister Crowley. Ele estudara seriamente as cartas durante 40 anos… Pedi que ele me ajudasse e ele o fez, com grande paciência e cortesia. Nos cinco anos seguintes, lutamos para avançar através do enorme volume de tradições, derivadas de fontes tão diversas quanto maçons, alquimistas, magos, cabalistas, geômetras, gamátricos, matemáticos, simbolistas, adivinhos, numerologistas, druidas, espiritualistas, psicólogos, filologistas, budistas, iogues, psicanalistas, astrólogos, e até mesmo heraldistas, todos os quais deixaram sua marca nos símbolos utilizados. A partir dessas diversas fontes, nós nos esforçamos por recuperar as simples e sagradas formas originais das cartas, além de indicarmos o Novo Eon de Hórus, uma aparição aterradora.
As Cartas libertaram minha mente e fui levada por pensamentos que só podem ser expressos por arquejos e soluços… Jamais tentei pintá-las com a ajuda de transes, escrita automática, sessões espíritas, médiuns, auto sugestão, drogas ou deixando os pensamentos fluírem.
Elas são resultado de trabalho duro, de pesquisas honestas e do senso comum — as quais, creio eu, são as verdadeiras magias — e foram feitas ao ar livre e o sob o sol do campo.
“Ás vezes, quando me sinto esmagada por todos esses significados, repito para mim mesma as palavras de Alice no País das maravilhas: ‘Quem se importa com você? Você não é nada além de um maço de cartas’”