Em 2010, o Wikileaks publicou um vídeo (intitulado como “Assassinato Colateral”) no qual se vê o ataque de um helicóptero do exército dos EUA matando pelo menos 12 pessoas – incluindo civis e dois jornalistas da agência de notícias Reuters – em Bagdá, na invasão do Iraque, o que gerou uma repercussão mundial e discussões na mídia sobre a legalidade e moralidade de ataques. No mesmo ano, o site publicou uma enorme quantidade de documentos secretos da invasão do Afeganistão que serviam como provas de crimes de guerra. Antes, o site já tinha publicado uma série de vazamentos de corrupção de empresas, como o banco suíço Julius Baer; uma cópia dos Procedimentos Padrões Operacionais, que detalhavam o protocolo do exército dos EUA – incluindo as violações de direitos humanos – na prisão de Guantánamo Bay, entre outras diversas denúncias.
Com essas publicações, o site se tornou um modelo do Quinto Estado (jornalismo cidadão), servindo constantemente como fonte de grandes jornais tradicionais, como o The Guardian e o New York Times e trazendo discussões e, possivelmente contribuindo para reformas políticas. Em 2011, o parlamentar da Noruega, Snorre Valen, indicou o site ao Prêmio Nobel da Paz, por ser uma das contribuições mais importantes do século XXI para a transparência e liberdade de expressão, por divulgar informações sobre corrupção, crimes de guerra e violações dos direitos humanos.
Embora muito provavelmente o Wikileaks não seja o primeiro exemplo de nudging que você possa pensar, tenha em mente o seguinte: como toda grande iniciativa online (podemos citar a Wikipedia, os P2P, redes sociais, fórum, entre diversos outros tipos de sites ou sistemas que os criadores conseguiram ver o diferencial da internet em relação a outras mídias), o sucesso do Wikileaks depende das ações dos usuários; especificamente, no caso do Wikileaks, das denúncias realizadas no site – se as pessoas não realizarem denúncias, o site ficaria sem conteúdo (e sem conteúdo disponibilizado pelo Wikileaks, não haveria as discussões sobre tais temas e nem as reformas políticas ou mesmo punições para os infratores). Julian Assange, seu fundador, compreendeu a seguinte “mecânica” das denúncias: as pessoas que sabem de algo errado a respeito de uma empresa ou governo não denunciarão ou não tornarão públicas as informações que têm, caso tenham medo de retaliações; dando o anonimato para as fontes (através do site e do envio de denúncias através do navegador Tor), retira-se o medo de retaliações e consequentemente, aumentam-se as chances das denúncias ocorrerem.
Ao tornar as condições favoráveis para que as ações das pessoas ocorram, mudando seus ambientes, aumentam-se as chances dessas ações ocorrerem. E com essas ações ocorrendo, obtemos mudanças nos negócios, comunidades e nas vidas das pessoas. É sobre isso que se trata o nudging ou arquitetura da escolha.