Frenesi no trabalho — o verdadeiro vício do Novo Mundo […] Tem-se agora vergonha do descanso; quase se experimentaria um remorso com a reflexão mais demorada. Pensa-se de relógio na mão, mesmo quando se está a almoçar […] vive-se permanentemente como alguém que tem medo de “perder” alguma coisa.
[…] Enterra o próprio sentimento dessa forma, o senso melódico do movimento; as pessoas tornam-se cegas e surdas a todas as harmonias. A prova está na pesada precisão que se exige agora em todas as situações em que o homem quer estar honestamente diante do seu semelhante, nas suas relações com amigos, mulheres, pais, filhos, patrões, alunos, guias e príncipes: tem-se falta de tempo, tem-se falta de força para consagrar à cerimônia, os meneios da cortesia, o espírito da conversa, e o ócio de uma maneira geral. Uma vez que a vida, tornada caça ao lucro, obriga o espírito a esgotar-se sem repouso no jogo de dissimular, de iludir, ou de prevenir o adversário; a verdadeira virtude consiste agora em fazer uma coisa mais depressa do que um outro. Dessa forma, só em raras horas é que as pessoas se podem permitir ser sinceras: e nessas horas, está-se tão cansado que se aspira não somente a “deixar correr” mas a estender-se pesadamente a deitar-se.
[…] Todos os dias o trabalho domina mais e mais a consciência em seu proveito: o gosto da alegria chama-se já “necessidade de descanso” […] “Temos que fazer isto em função da saúde”, diz-se às pessoas que vos surpreendem em uma volta pelo campo. Neste ritmo as coisas poderão ir, rapidamente tão longe que não se ousará mais ceder, sem desprezo por si próprio e sem experimentar remorso ao gosto pela vida contemplativa, ao desejo de passear em companhia de pensamentos e de amigos.
Friedrich Nietzsche — A Gaia Ciência 329
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Obrigado a todos os clientes e amigos que conheci no incrível ano de 2020! Que em 2021 tenhamos um ano ainda mais poderoso!